Jardim

Sentia que podia vomitar a qualquer momento e, depois de o ter feito, tomei daqueles comprimidos que Brianna me tinha dado vestindo-me ainda com cara de zombie. Agarrei no meu telemóvel e nos meus óculos de sol colocando-os na cara e olhei para o meu telemóvel com um suspiro, ele queria fazer-me andar, só podia. Fui até ao jardim da cidade, que só sabia onde era porque tinha andando por lá com os meus guarda costas esperei por Damon Genovese, o meu primo que gostava de me fazer a vida num inferno.

Estava farto de ali estar, uma das coisas que ele não saía à nossa família era a sua pontualidade britânica. Por vezes um atraso era normal mas ele era sempre. - Olá priminho - levantei a cabeça para olhar para Damon que apareceu atrás de mim, sentando-se logo de seguida. Ele era o terceiro de sucessão ao trono e um obsessivo por isso, tinha vindo estudar para aqui para me infernizar a vida, de certeza porque ele nem queria procurar pelo meu irmão.

Hoje tinha decidido aventurar-me e sair da universidade sem o meu mapa. Fiz uma careta olhando em volta, já meio perdida, mas assim que vi um jardim ao longe, optei mesmo por ir para lá, tinha a ligeira impressão de que se me afastasse ainda mais, nem amanhã conseguia voltar para a universidade. Apreciei o jardim, passando as mãos pelo meu vestido e foi então que vi o Kenzinho ao longe, sentando num banco onde estava mais um rapaz, mas não deviam conhecer-se. Arregalei os olhos, começando aos saltinhos ali no meio, enquanto batia palminhas, mas acabei por ficar muito séria de repente, passando as mãos pelo cabelo já despenteado. Caminhei até ele, sempre com um sorrisinho e assim que cheguei junto dele, coloquei-me atrás do banco, tapando-lhe os olhos com as mãos.
- Uhh, quem sou eu?

- O que é que queres? - Perguntei a Damon ouvindo-o rir.
- Ainda ressentido porque sou melhor a futebol do que tu? - Perguntou em tom de gozo. Eu nem lhe respondi, não valia a pena. - Eu vi o que andaste a fazer ontem. Devias ter mais cuidado, assim que os jornalistas descobrirem que estás aqui não vais poder embriagar-te. A tua querida mãe não ia ficar nada feliz do filho prodígio. Ah, não és tu. - Ele falava de uma maneira tão irónica que eu estava quase a perder a cabeça quando senti umas mãos nos meus olhos e a voz de brianna logo de seguida. Ouvi Damon rir-se e respirei fundo.
- olá bri. -murmurei.

Contrariamente ao que eu pensava, aquele rapaz que estava ao lado do Ken estava com ele, pelo menos foi o que pareceu quando ele se riu. Arregalei ligeiramente os meus olhos, endireitando-me e afastei as minhas mãos dos seus olhos, passando uma mão pelo cabelo, meio atrapalhada.
- Desculpa.- pedi num murmuro.- eu pensava que estavas sozinho.- desculpei-me com um suspiro, já não ia poder ficar com ele.

Damon estava a fazer aquele sorriso que fazia quando estava prestes a fazer porcaria. - Não - disse assim que Bri começou a falar - eu estou sozinho, o damon está a ir embora - olhei-o fazendo-lhe um olhar para ele ir.
- na verdade nao estou - comentou ele - ja lhe disseste o que és principezinho?

Era melhor eu ir embora, já tinha percebido que eles estavam juntos, era melhor não incomodar. Provavelmente tinha arranjado um amigo novo, não queria intrometer-me. Estava preparada para me despedir quando ouvi Peter dizer que o rapaz, que pelos vistos se chamava Damon, estava a ir embora. Assenti, não percebendo bem se aquilo significava que eu podia ficar e logo desviei o olhar para o rapaz quando falou. Fiquei a ouvi-lo tentando assimilar o que ele dizia e acabei por fazer uma cara estranha.
- Principezinho? - perguntei.- qual principezinho?

Damon levantou as sobrancelhas e eu passei as mãos pelos cabelos levantando-me mas antes que pudesse dizer alguma coisa ele riu-se mais uma vez. - Ela acredita mesmo em ti, não acredita Peter? - perguntou-me num tom de gozo.
-Apenas cala-te - cerrei o maxilar e as mãos em punhos.
-Ohh, o principezinho está irritado. Vais dar-me um murro?

Eu cada vez percebia menos. Dava para perceber que Damon não era boa peça, mas por outro lado, o Ken estava demasiado irritado para aquilo parecer mentira. Juntei as sobrancelhas mal Damon o tratou por Peter e percebi que aquele era o seu nome verdadeiro. A minha cabeça estava às voltas, principezinho? Mas qual principezinho? Da última vez que eu e Peter, pelos vistos, tínhamos conversado sobre príncipes, ele negou ser o príncipe de quem eu tinha falado. Só se..Virei-me de repente para ele e olhei-o já mais séria.
- Do que é que ele está a falar..Peter?

Passei as mãos pela cara já a suar por todos os lados e olhei Damon - vai-te embora - mandei e ele fez um ar todo escandalizado levantando-se com um sorriso no rosto.
-adeuzinho Brianna - disse ele com um aceno fazendo-me olhar depois para ela. Como é que eu lhe podia dizer a verdade se já lhe tinha mentido antes? Ela ia odiar-me, ou então ia simplesmente ser igual às outras todas.

A postura de Peter só me fazia ficar ainda mais desconfiada e perceber que realmente se passava alguma coisa. Juntei as sobrancelhas quando o outro se levantou e se foi embora e apenas acenei com a cabeça, virando-me para Peter, com os braços cruzados ao peito.
- Vais explicar-me o que se passa? - perguntei, cada vez gostava menos daquilo.

Sentei-me lentamente no banco com um suspiro e baixei a cabeça até passar com as mãos por cima da mesma, mas lá me recompus levantando-a e colocando-me muito direito. Quando lhe tinha negado quem era, sabia que mais tarde ou mais cedo ela ia descobrir, mas não sabia que numa noite nós íamos ficar amigos. Afinal, eu nem sequer pensava que ia para uma discoteca até ela me convidar para sair. -Não te zangues, por favor - pedi com um suspiro - eu menti-te ontem, quando me perguntaste se eu era... - tentei que ela se lembrasse por ela própria.

Fiquei a olhar para ele com uma expressão indecifrável no rosto, se havia coisas que eu detestava eram mentiras, e algo me dizia que estava prestes a descobrir uma. Quase que podia adivinhar sobre o que era. Senti-me ficar ligeiramente irritadiça ao vê-lo sentado no banco, e estive quase para falar, mas depois decidi permanecer em silêncio enquanto esperava que ele falasse. Dei um passo atrás assim que se levantou e fiquei a olhar para ele, com os braços cruzados ao peito. Até o meu coração começava a ficar desnorteado. Mordi a parte de dentro da minha bochecha com força, encolhendo apenas os ombros quando me pediu que não ficasse chateada e quando continuou a falar, tudo fez sentido.
- Eu sabia! - murmurei irritada.- eu sabia que tu eras o príncipe.- apertei os meus braços contra o meu corpo.- porque é que me mentiste? - eu podia ser bem disposta e não me chatear com pouco, mas não tolerava que me fizessem passar por parva.

Suspirei olhando o chão quando percebi que estava irritada e chateada e sentei-me no banco olhando em volta. Eu tinha um bocado a mania da perseguição, o que era normal sendo quem era. Levantei devagarinho o olhar para ela e encolhi os ombros, coisas que não devia fazer - porque não queria que me tratasses diferente das outras pessoas - respondi. - Eu gostei de ser normal, durante um dia, ou noite.

Eu sentia-me meio dividida, por um lado, estava furiosa por ele me ter mentido, mas por outro, não tinha a certeza se me queria chatear com ele. Não consegui não revirar os olhos quando falou e balancei o peso do meu corpo de um pé para o outro, continuando a apertar os braços contra o meu corpo.
- Podias ter-me contado no fim.- disse.- quando percebeste que eu não te ia tratar de forma diferente.- voltei a revirar os olhos.- a mim pouco me importa se és príncipe ou se és outra porcaria qualquer, eu só queria um amigo.- murmurei.- e já que querias ser assim tão normal, conseguiste, as pessoas normais passam a vida a mentir.- mordi a parte de dentro da bochecha com força. Não gostava de estar tão séria.- eu pensei que...- abanei a cabeça com um suspiro.- odeio que me mintam.- atrevi-me a olhá-lo. Agora tudo fazia sentido, o facto de ele estar tão reticente em sair, a forma como se comportava, só não percebia porque é que não me tinha contado, o que ele me tinha dito não era bem uma desculpa, se bem que eu até era capaz de compreender, apesar de estar chateada. Era como eu já tinha dito, estava dividida.

Fiquei a olhar o chão enquanto ela falava. Agora ela ia zangar-se e nunca mais me falava, porque ela não era como as outras raparigas que via sempre, ela não ficava toda histérica e fazia-me os favores todos e bajulava-me e... -Desculpa - voltei a pedir e também me voltei a levantar aproximando-me dela - vais deixar de ser minha amiga? - perguntei.

Eu não me importava com o estatuto das pessoas, eu própria não o tinha, porque é que me haveria de preocupar com isso? Tudo bem que era estranho saber que tinha beijado um príncipe ou que tinha dançado com um, mas não deixava de ser uma pessoa, logo, ia ser tratado como tal, pelo menos no que dependesse de mim. Não me mexi quando ele se aproximou de mim, deixando que o fizesse,e fiquei a olhá-lo, revirando os olhos quando me perguntou se ia deixar de ser amiga dele.
- Sabes que era isso que merecias não sabes? - resmunguei.- mas eu não consigo.- encolhi os ombros.- eu já gosto de ti.- voltei a revirar os olhos e estiquei os braços para ele.- mas não voltes a mentir-me.- olhei-o séria.- ou eu juro que arranjo forma de ficar mesmo chateada contigo.- semicerrei os olhos.- agora anda, dá-me um abraço.- empinei o nariz.- nem toda a gente pode dizer que já abraçou um príncipe.- mexi as sobrancelhas com um sorrisinho.

Assenti ao que ela disse, eu sabia muito bem que merecia. - Desculpa - voltei a pedir e sorri quando ela disse que não conseguia. Aproximei-me o suficiente até ela dizer para eu a abraçar, e quando o fiz levantei-a ligeiramente rindo-me baixinho. - Já fizeste muito mais do que abraçar um príncipe - toquei-lhe na ponta do nariz com um sorriso maroto.

- Não peças mais, já estás mais do que desculpado Kenzinho.- disse, sorrindo quando finalmente me veio abraçar e assim que os meus pés se afastaram do chão, eu comecei a rir-me, agarrando-me bem ao seu pescoço.- isso eram tudo saudades minhas ou medo de eu ficar chateada? - perguntei com um sorrisinho, mordendo-lhe o queixo quando consegui.- sou mesmo especial.- semicerrei os olhos e quando vi o seu sorrisinho maroto, soltei uma gargalhada.- é verdade.- sorri tal e qual como ele.- aposto que vou deixar as princesinhas todas roidinhas de ciúmes.- mexi as sobrancelhas, encostando a minha cabeça no seu peito.- princípezinho parvo.- resmunguei com um sorriso.

-Eram - murmurei colocando-a depois no chão sorrindo quando me mordeu o queixo e toquei-lhe na bochecha. Ela tinha as bochechas e a expressão mais engraçada de sempre, parecia uma bonequinha - és a minha única amiga aqui e és a única que não beija os meus pés - ri-me só de a imaginar a beija-los - mas vamos sair daqui agora. - pedi-lhe - não quero meter-te em confusões se alguém me apanhar.

Sorri cada vez mais convencida depois de ele ter admitido que eram saudades e dei-lhe um beijinho no nariz, segurando-me depois aos seus braços para não cair quando ele me colocou no chão. Fiz uma careta assim que disse que eu não lhe beijava os pés e soltei um sonzinho de nojo, rindo-me de seguida.
- E ainda bem, ainda apanhava alguma doença.- disse na brincadeira. Assenti quando disse para sairmos dali, mas não consegui não ficar intrigada com o que disse depois.- que tipo de problemas? O que é que pode acontecer se te apanharem? - perguntei, juntando as sobrancelhas.- não me digas que tens um reino inteiro atrás de ti.- arregalei os olhos, entreabrindo ligeiramente os lábios.- tens?

Ri-me abanando a cabeça indo dali para fora de mão dada com ela. - Um reino atrás de mim? - perguntei rindo-me - não - abanei a cabeça - está descansada eu não estou fugido - brinquei levantando depois as nossas mãos - se fotografarem isto vão dizer que és a minha próxima noiva e provavelmente cuscar a tua vida, não quero que façam isso. Não quero que te tirem a privacidade só por sermos amigos.

Acabei por me rir quando ele fez o mesmo e encostei a minha cabeça ao seu braço enquanto andávamos. Fiquei muito atenta à sua explicação, levantando as sobrancelhas quando também levantou as nossas mãos unidas e foi impossível não arregalar os olhos com o que ele disse.
- Credo, agora percebo porque é que queres ser uma ''pessoa normal''.- fiz aspas com a mão livre.- mas eu até gostava de ser princesa.- disse com um sorrisinho infantil.- elas usam aqueles vestidos compridos como na televisão não usam? - pisquei os olhos.- por favor, não estragues o meu sonho.- fiz um pequeno beicinho e depois encolhi os ombros, quando ele disse que viriam investigar a minha vida caso nos fotografassem.- também não iam encontrar grande coisa, eu não sou lá muito interessante, tenho uma vida super normal.- acariciei-lhe a palma da mão de forma distraída.- normal de mais até.

Sorri ao ver a sua expressão e assenti com a cabeça como a confirmar-lhe as minhas próprias palavras. Ri-me quando falou dos vestidos comprimidos - quando existem festas ou bailes sim - disse-lhe - elas usam vestidos compridos, mas é só nesses aspectos - fiz uma careta quando disse que tinha uma vida normal e abanei a cabeça - não, nas revistas ia sempre aparecer alguma coisa interessante e inventada ou extremamente exagerada. Acredita em mim, já passei por isso - encolhi os ombros.